
Em pleno século 17, um músico da corte de Luiz 14 relembra sua introdução no mundo artístico supervisionado pelo seu rigoroso mestre de viola de gamba.
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Giovanni Gigliozzi Bianco
Todas as Manhãs do Mundo é um grande filme de Alain Corneau.
Cinema e música em uma mistura que te transporta ao século XVII, para a história do mestre violista Sainte Colombe. O filme não é exatamente biográfico, afinal, quase nada se sabe realmente sobre a vida de Sainte Colombe. Entretanto, a ficção, criada em torno desse personagem real, é uma história muito envolvente.
Mestre incomparável da viola de gamba, Monsieur de Sainte-Colombe é atormentado com a morte prematura de sua amada esposa, o que o faz se insular ainda mais em seu universo musical, distante não só do convívio social, mas também convictamente crítico dos círculos da música palaciana. Suas duas filhas, a talentosa e frágil Madeleine (Anne Brochet) e a inquieta Toinette (Carole Richert), crescem nesse ambiente de pouco contato humano e grande erudição musical. Logo se tornam cantoras líricas e aprendem também o ofício do pai. Porém, assim como ele, apresentam-se raramente e passam os dias em sua propriedade em uma região rural da França. O grande isolamento da família será perturbado pelo talentoso jovem Marin Marais (Guillaume Depardieu), que deseja ser aprendiz do mestre violista e se logo tornará um importante músico na corte francesa (vivido, na idade adulta, por Gérard Depardieu). Nem mesmo o decorrer de muitos anos apaga a dor de Sainte-Colombe. Em sua solidão e busca pela “verdadeira música”, compõe e toca, por horas a fio, algumas das mais grandiosas músicas barrocas, inspiradas na tristeza e no desejo da transcendência.
O filme é uma obra de grande beleza. A atmosfera barroca fica lindamente recriada com um excelente trabalho conjunto de música, figurino, fotografia e enquadramento. Predominam as cenas sem fala ou com diálogos minimalistas, acompanhados de fortes expressões faciais e corporais. A fotografia cria verdadeiras pinturas barrocas -- onde predominam os motivos domésticos, as naturezas-mortas e os retratos obscurantistas, expressos na película pela iluminação parca e envelhecida das velas e pelo grande contraste de luz e sombra.
As interpretações são marcantes e cheias de densidade. Jean-Pierre Marielle encarna a sobriedade rígida, amarga e lacônica do mestre compositor em uma atuação impressionante. Vale a pena conferir!
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